quarta-feira

DE PORTO ALEGRE A MENDOZA (Argentina)

Sábado, 10 de outubro de 2009-10-13
DE PORTO ALEGRE A SANTANA DO LIVRAMENTO – 510 km rodados das 9:55h às 16:20 – 6:25h de pilotagem


Saímos direto da transportadora Transtana para a estrada, sem nenhuma pressa, visto que tínhamos o dia inteiro para rodar apenas 510 km. Pegamos engarrafamento sobre a ponte do rio Guaíba e congestionamento de automóveis até 200 km de Porto Alegre. Lembro que estamos em final de semana ligado com feriado na segunda-feira e muita gente está aproveitando para viajar. Muitas motos na rodovia seguindo para o encontro do MercoCycle, em Santa Maria.
Cortamos parte do Rio Grande do Sul em direção à fronteira uruguaia. Um cenário exuberante de pradarias, alagados e córregos (arroios). Passamos por diversos povoados simpáticos e bem cuidados, repletos de chaminés fumegantes e de varais com tapetes de pele de boi estendidos para arejar ao sol.
Chegamos em Santana do Livramento por volta das 16 h e saímos em busca de um hotel. Rodamos para todos os lados e não havia vaga em lugar algum. Por estarmos no início de um feriadão, era esperado que a cidade estivesse lotada, particularmente por fazer fronteira com a zona franca de Rivera (Uruguai), que a faz ser muito frequentada pelos ávidos consumidores do Sul, que correm para lá em busca de eletrônicos, perfumes e bebidas importadas.
Só conseguimos encontrar um lugar para dormir graças à persistência do moto-taxista Renato, que nos ajudou a vasculhar todos os locais possíveis e imagináveis das duas cidades (Livramento e Rivera). Depois de uma dúzia de tentativas, encontramos vaga no motel Europa, uma espelunca de quinta categoria. Fazer o quê? Diante da falta de opções, ficamos por lá mesmo.
(fotos da moto e com o Renato, amigo incidental nesta viagem)


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Domingo, 11.outubro.2009
DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS a ROSARIO DEL TALA, ARGENTINA - 503 km rodados - entre 10:30h às 19:35h - 9:30 h de viagem no dia. Total rodado até aqui: 3014 km (Paulo); 1013 km (Flávio); sendo358 km no Uruguai e 130 km na Argentina.

Eu sempre achei que uma boa viagem de motocicleta tem que ter um pouco de sofrimento. Mas a dose de hoje foi cavalar! Vou itemizar para ficar mais fácil a leitura:
a) Dormimos muito mal nesta noite, no motelzinho vagabundo citado no relato de ontem.
b) Acordamos hoje bem cedo, sob um tempo diluviano. Chovia intensamente! As ruas de Livramento e Rivera viraram rios de água. Fomos encontrar o Paulo Amaral no posto da polícia rodoviária por volta das 8:30 h. De lá seguimos para a Aduana uruguaia embaixo de um aguaceiro danado. Paulo só conseguiu autorização para entrar no país depois de pagar uma multa de R$ 60,00, porque em sua última viagem esqueceu-se de registrar a “saída” do Uruguai. Lá se foi mais de 1 hora para resolver todos os trâmites aduaneiros.
c) Tínhamos planejado chegar em Rosário, na Argentina, por volta das 16 h e pernoitar por lá. 680 km não são lá grande coisa. O tempo dava de sobra.
d) Pegamos a estrada exatamente as 10:30 h. Fizemos quase a metade do trajeto uruguaio de 360 km embaixo de espesso temporal. Mesmo com a vista semi-encoberta, pudemos apreciar as planícies alagadas e os pastos imensos repletos de cavalos, bois gordos e ovelhas rechonchudas.
e) Passamos por Taquarembó e, dali, entramos na Ruta 26 para Paysandu, cidade fronteiriça com a Argentina. Uma rodovia em estado precário, com muitos buracos, empoçamentos e lama. Nenhum de nós sabia que neste trecho não existe um único posto de gasolina. Se não tomarmos o cuidado de abastecer em Taquarembó, certamente ficaremos sem combustível. Só fiquei sabendo disso depois, às duras penas.
f) Passamos por Taquarembó e não abastecemos. Pelo caminho, bem no meio da ruta 26, percebemos que nossa gasolina não nos levaria a lugar algum. Fazia frio de aproximadamente 13 graus e chovia. Começamos a buscar informações com transeuntes sobre “onde comprar combustível por aquelas paragens”. Ah sim, claro, muitas chácaras e povoados, entre 5 e 10 km da rodovia, poderiam nos vender alguns litros. Mas quais? Iniciamos uma via sacra, num entra-e-sai incessante pelas fazendas marginais à pista. Para chegar a elas, muita lama e lodo, por estradinhas péssimas. Acho que já tínhamos procurado em mais de meia dúzia dessas localidades, quando no retorno de uma delas minha moto patina no lodo e eu levo um tombo cinematográfico com a Rosane na garupa.
g) Para piorar, caímos de costas dentro de um pequeno córrego formado pela enxurrada, com a água cobrindo a metade de nosso corpo (na horizontal). A queda foi tão inusitada que entrou água dentro do meu capacete. Nenhum dano aparente, exceto o manete da embreagem quebrado e a sujeira entranhada nas roupas. Foi um pouco difícil erguer a moto no piso escorregadio, mas conseguimos por meio de esforço triplo.
h) Só conseguimos achar gasolina por volta das 16 h num armazém de estrada. Para chegar lá, tivemos que atravessar um córrego a pé, com água na altura das canelas, e trazer os galões na mão. Sequer tínhamos rodado 300 km no dia. Naquela altura, já devíamos ter chegado em Rosário, mas ainda estávamos em pleno Uruguai, encharcados, sob um frio de trincar os dentes.
i) Convém informar que minha moto + passageiros + acessórios + bagagem está pesando quase meia tonelada e foi muita bobagem da minha parte encarar uma estrada enlameada com a moto nestas condições.
k) Depois desta novela toda, adentramos a Argentina por Colón e fomos dormir em Rosário del Tala, 180 km antes de Rosário, o destino planejado para hoje.
l) Ter rodado tão pouco hoje (só 503 km) vai nos obrigar a pilotar mais de 1000 km amanhã, porque temos reserva fechada em Mendoza. O maior desafio será da Rosane, porque não é mole suportar tanto tempo na garupa, mas vamos tentar!
m) Chegamos em Rosário del Tala e demoramos quase 2 horas para achar um hotel. Mais uma espelunca no nosso currículo. Outro hotelzinho vagabundo com chuveiro quase em cima do vaso sanitário.
Findamos o dia exauridos!
(fotos na fronteira Uruguai/Argentina)





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12.outubro.2009, segunda-feira
DE ROSARIO DE TALA A MENDOZA, ARGENTINA – 1062 km rodados no dia – Das 6:00h às 19:25 – 13:25h de pilotagem. Total rodado na viagem: 2075 km (Flávio); 4076 km (Paulo); sendo 358 km no Uruguai e 1192 km na Argentina.


Ufa, conseguimos chegar a Mendoza, onde passaremos 4 dias. Tivemos que superar 1062 km de estradão no dia de hoje! Mais difícil que pilotar isso tudo, foi suportar o cenário repetitivo deste trecho. Excetuando a passagem por Rosário, onde trafegamos pelo meio de um verdadeiro pantanal formado pelas águas do rio Paraná, não vimos nada de interessante pelo caminho.
Para cumprir a quilometragem de hoje, tivemos que reduzir o tempo das paradas e andar rápido, a ponto de as motos fazerem entre 10 e 12 km/l. Esse consumo não é de assustar porque, com a gasolina daqui, nossa média tem sido em torno dos 14 km/l. A moto bebe como um gambá!
Toda vez que paramos para abastecer, tento colar o adesivo do Águia Solitária, motoclube ao qual pertencemos, no posto de gasolina. Ficamos emocionados quando vimos outro adesivo dos "águias" na entrada do restaurante do posto de San Luis (a 180 km de Mendoza). Não sabemos quem foi que o colocou ali.

SOBRE MENDOZA:
A cidade é linda sob todos os aspectos. Uma obra-prima do esforço humano de edificar uma cidade no meio de uma região desértica, sem água, numa zona sísmica das mais ativas do mundo (há cerca de 20 abalos sísmicos imperceptíveis e diários por aqui). Grande parte do abastecimento de água vem do degelo dos Andes. Há milhares de pequenos canais por onde fluem as águas vindas da Cordilheira, que dão característica especial ao lugar. É difícil imaginar que haja localidade mais arborizada neste planeta. São dezenas de milhares de árvores centenárias em derredor das ruas e avenidas, especialmente plátanos, algarrobos, fréscios e amoreiras, dentre as 90 espécies trazidas para cá.
Nem é preciso dizer que Mendoza é a “capital do vinho”. Uma das 4 maiores produtoras mundiais desta bebida. Também guarda a fama de produzir os azeites de melhor qualidade da Argentina.
Embora tenha sido fundada 1561, a arquitetura de Mendoza é moderna. A cidade foi completamente destruída pelo terremoto de 1861, quando 60% de sua população foi dizimada. Foi reconstruída do zero! E quase não se tem vestígio do que existia antes do terremoto.
Daqui partiu o Exército de Los Andes, liderado por San Martin, que decretou o fim da dominação espanhola sobre a região, numa das mais sangrentas batalhas sul-americanas que se tem notícia.
É isso aí, nosso tempo está curto, mas vamos tentar postar notícias novas mais tarde.

(fotos na placa de estrada e no Cerro de la Gloria, em Mendoza)


20 comentários:

  1. Em que pese os percalços por que passaram, até agora, não esmoreçam e continuem em frente!!
    Com certeza, vai valer à pena!!!!

    Vão com DEUS e façam ÓTIMA VIAGEM, de IDA E VOLTA!!

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  2. Grande amigo Flávio, fico com água na boca só de ler seu relato, morro de saudades de quando passei por aí. Aproveitem bastante esta viagem e fiquem observando nos postos que vc vai acabar encontrando algum adesivo dos Skolados.
    Abração e que Deus continue abençoando voces.
    Carlos Ivo

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  3. Caros amigos,

    Parece até que estou indo nessa aventura com voces, pois há exatos dez meses Evanio e eu fizemos esse trajeto. Parabéns pela descrição e pé na estrada.
    Forte abraço
    Dalton

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  4. É isso aí companheiros!

    Superem os desafios!

    Pois como diriam os argentinos: "¿Qué le hace una mancha más al tigre?", que numa tradução livre seria "O que é uma fagulha a mais para Joana d'Arc?", ou em outra tradução, mais fatal: "O que é um p. pra quem já tá c.?"

    Adelante!!!
    Glênio

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  5. Amigos, do Água Sanitária quer dizer Águia Solitária.
    Sucesso na viagem e a companhia de Deus sempre.
    Estamos acompanhando.
    Jorge Geovani (Javali)
    Presidente Geral
    Skolados do Asfalto Moto Grupo

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  6. Flávio e esposa,

    Desejo uma boa viagem, e um ótimo passeio.

    Abs
    Josiane

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  7. Caros amigos Flávio e Rosane. Desejo que superem todos os obstáculos e voltem são e salvos, juntamente com o Paulo é claro.
    Abraços. (Wilson Rocha)

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  8. Bom dia! Flávio e Cia,

    A coragem de vocês é uma injeção de ânimo para muitos!! Deus abençõe!
    aproveitem e voltem em PAZ.

    Alice

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  9. Meu amigo, só posso repetir o de sempre. PARABÉNS a todos vcs e que Deus os guie e ilumine os seus caminhos. Boa viagem, irmãos.

    Carlão
    Calibre 30 MC/DF

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  10. Qta vitalidade!!!! É passar pela vida e não deixar a vida passar por vocês.
    Parabéns pela coragem e determinação.

    bjos

    Dulci (MinC)

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  11. É isso aí pessoas guerreiras.
    Se fosse fácil, qualquer um Faria, Flávio.
    Que Deus os acompanhe e que seus anjos da guarda estejam sempre atentos.
    Sérgio e Bere

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  12. Flávio,
    Seguramente um dos objetivos da viagem é mudar o foco do dia-a-dia... pelos relatos até o momento isso está superado com folga... Sucesso sempre! Boa Viagem... Se der, deita um pouco na grama, as margens da lagoa Horcones e fica olhando as núvens brincar no pico do Aconcágua.
    Abs.
    Pedro PeU Cavalcante

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  13. IIIHUUUU QUE SONHOOOO!!!!!

    Irmãos, sempre boa viagem!
    Sabe que eu gostei dessa rota... lembram daquela q postei na lista de discussão... Pelo que vejo essas q vcs estão fazendo vai dar só uns 2 mil km a mais... Depois q voltarem quero conversar direito com vcs..rs
    valeu!
    Abraços e boa viagem! (parabéns)

    Presidente
    Motrópolis Moto clube
    Goiânia - Goiás
    www.motropolis.com.br

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  14. Rosane e Flavio parabens pela coragem e disposiçáo !
    Fiquem com Deus e se cuidem bastante .
    Beijos e abraços da irmá .

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  15. Flavio quando crescer quero ser igual a você!
    Deus remova todos os obstáculos do caminho de nossos viajantes para que só possa ter uma boa lembrança de mais esta viagem.
    Nossos aventureiros estão encorajando muitas pessoas a realizar o sonho ou projeto de sair para uma viagem de motocicleta, espero em breve esta conhecendo nossos heróis de perto.

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  16. Grande Flavio

    É sempre bom trilhar esses "caminhos de San Tiago". Lendo a sua aventura, percebo que estou um pouco enferrujado e tambem preciso pegar a estrada.
    Abraçao e tudo de bom pra todos voces.
    Jimi

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  17. Crianças , as fotos estão lindas !
    Rosa , gostaria que vc comprasse ai em Santiago algo que estou precisando . Me ligue assim que puder pq estou conseguindo o endereço . Beijos da irmã .

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  18. Flávio, realmente o Vale Nevado é um presente, após tantas dificuldades. Cadê a foto da galera surfando na neve! hehehe! Parabéns pelo roteiro. Merece matéria, não só na "Duas Rodas" mas em todas revistas especializadas em motociclismo. Vamos nessa! . Chañaral está perto? Grande abraço a todos. Washington

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  19. Flávio, Rosane e Paulo. Já tentei postar msgs pra vcs, mas neca. Esse sistema é difícil e muita gente deve ter perdido a paciência, desistindo. Mas estamos daqui vibrando com cada relato e curtindo mais esta saga de vocês. É a forma de minimizar a frustração de não estar aí presente, seguinte essas estradas e curtindo essas paisagens. Sorte, alegrias, que Deus os acompanhe. Forte abraço, Sergio Faria, Vassi, Joao, Anita e Anna Luiza.

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  20. me alegro que hallan terminado su viaje con exitos.
    gracias por compartir sus fotos y su cariño...
    saludos desde mendoza..
    un fuerte abrazo
    luis. (loja Yuchan)

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Quem sou eu

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Sou servidor aposentado do Ministério do Planejamento, motociclista há algumas décadas, em Brasília. Também sou antropólogo e sociólogo por formação; escritor, violeiro e compositor por vocação; e estradeiro por opção. Criei esse blog para compartilhar, com quem demonstre interesse, minhas viagens de moto pelo Brasil e por outros países. Contato pelo email: flaviomcas@gmail.com